sábado, 31 de outubro de 2015

Eu, de outrora.



As ruas são bem menores, e muito mais curtas, do que eu me lembrava. A noite avançada já invadia a madrugada. Parei na calçada alta e de lá olhei para a pequena ladeira pela qual eu me movia para noites divertidas de flerte e amizade. Já se passaram muito anos, e o grisalho dos meus cabelos faz jus a tantos orvalhos. Fui fera, um violento ser em idades poucas. Fui poeta em folhas de caderno escolar. Fui moleque livre de árvore em árvore, rio e cachoeira, campinhos de terra, serras, direito a me apaixonar. A lua se livra da cortina de nuvens e deita o seu reflexo nas águas escuras do açude em que por tantas vezes eu me banhei. Também havia parques de diversão, jogos, recados pelo sistema de som. Os primeiros trabalhos, os primeiros delitos também. A cidade pequena, fria e quase indiferente, parecia não acolher este saudosismo todo. O seu momento era o presente. Prédios novos, outras gerações, novas histórias. E eu, cigarro aceso, carro ligado, sentinela solitário do que já não existe mais.


DJ de S.

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